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Todo ser humano deve plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro

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No romance A Cidade e as Serras, Eça de Queirós escreveu:

“Uma tardinha, ao anoitecer, sentados no pomar(…) Jacinto observou, mais para si do que para mim:

— É curioso… Nunca plantei uma árvore!

— Pois é um dos três grandes atos, sem os quais segundo diz não sei que filósofo, nem se foi um verdadeiro homem… Fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro. Tens de te apressar, para ser um homem. É possível que talvez nunca prestasses um serviço a uma árvore, como se presta a um semelhante!

(…)

— Oh Zé Fernandes, quais são as árvores que crescem mais depressa?

— Eh, meu Jacinto… A árvore que cresce mais depressa é o eucalipto, o feíssimo e ridículo eucalipto. Em seis anos tens Tormes coberta de eucaliptos…

— Tudo tão lento, Zé Fernandes…

(…)

— Um carvalho!… Trinta anos, antes que seja belo! Desanimo! É bom para Deus, que pode esperar… Patiens quia aeternus. Trinta anos! Daqui a trinta anos, árvores só para me cobrirem a sepultura!

— Já é um ganho. E depois para teus filhos, Jacinto…

— Filhos! Onde os tenho eu?

— É o mesmo processo dos castanheiros. Semeia. Não faltam por ai terras agradáveis… Em nove meses tens uma planta feita. E quanto mais tenrinhas, e mais pequeninas, mais essas plantas encantam.

Ele murmurou, cruzando as mãos sobre o joelho:

— Tudo leva tanto tempo!…”

Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, 1901, (trechos do capítulo IX)

Ao cubano José Martí também foi atribuída a afirmação:

“Há três coisas que cada pessoa deveria fazer durante a sua vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.”

José Martí

Escritor e político cubano (1853- 1895)

Por que esses dois autores falam dessas ações como sendo deveres de todo ser humano?

Porque essas são três formas de deixar um fruto, de praticar um ato que não se perde na passagem do tempo e podem ser três caminhos para consolidar um legado de vida. 

Se fossemos seguir à risca esses deveres “plantar, ter e escrever” caberia essas observações temporais:

Plantar uma árvore demora em torno de 10 minutos: cavar a terra, posicionar a mudar, cobrir com terra e regar. 

Fazer um filho demora em torno de 20 minutos: é o tempo em que o espermatozoide leva para penetrar totalmente no óvulo e iniciar a fecundação.

Nesses dois “deveres” não é necessário conhecimento técnico apurado para que eles se façam bem feitos e a natureza, por si só, cuida da evolução desses atos, ao contrário do que ocorre quando falamos de escrever literatura. 

Escrever um livro pode demorar meses ou anos. E para um livro ser bem plantado e bem nascido o tempo e o profissionalismo tornam-se essenciais.

Segundo exemplos desses autores o tempo de escrita literária pode variar entre alguns meses ou anos:

O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, 6 meses

Frankenstein, de Mary Shelley, 1 ano

O Sol é para Todos, de Harper Lee, 2 anos e meio

Game of Thrones, de George R. R. Martin, 5 anos

O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, 10 anos

 Trilogia de O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, 16 anos

No caso de um livro, ainda que o nascimento seja rápido, a gestação é longa. 

Uma autobiografia ou um livro de memórias, precisa de um tempo para buscar o passado. Pede uma organização minuciosa, uma libertação de julgamentos, uma superação de medos, um olhar gentil para si próprio, e isso pode levar tempo. Para escrever um livro é preciso se dedicar a um intenso trabalho intelectual e braçal dia após dia do início ao fim.

O hoje 

Quantas pessoas dispõem hoje de tempo e de habilidade literária para escrever o livro de suas vidas? Ou um livro com as memórias de família? Ou a trajetória de suas empresas? Ou dos meses de gestação de um filho? Ou um voto de amor? Ou o que você gostaria de dizer aos seus netos, bisnetos, tataranetos… da forma que só você poderá dizer?

A palavra hoje vem com o peso provocativo e indefectível da brevidade da vida, do tempo que nos escapa e principalmente do tempo que nos resta. É esse o tempo que amedronta e encanta porque é impossível de saber. Que poder temos sobre ele? Nenhum. Só temos o hoje.

A arte é eterna, a nossa vida é um sopro. 

Pintores e fotógrafos são contratados para eternizar uma imagem, da mesma forma, um escritor profissional pode ser contratado para eternizar uma história ao transformá-la em arte. Costumo dizer aos clientes que me procuram “Não permita que outras pessoas escrevam a vida que só você viveu. Conte você mesmo a sua história, não espere a vida acabar e deixar que outros a escrevam por você, ou, pior ainda, não espere a sua vida acabar e deixar que todos a esqueçam. O Gabinete Secreto pode transformar a sua história de vida numa obra literária.”

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